domingo, 17 de dezembro de 2017

Gentili perde mais uma para Maria do Rosário

Por Katia Guimarães, no blog Socialista Morena:

Em decisão unânime, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) determinou nesta quinta-feira, dia 14 de dezembro, a retirada de todas as redes sociais do vídeo em que o apresentador de TV Danilo Gentili faz ofensas contra a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). Os desembargadores negaram recurso ao humorista, confirmando decisão anterior do relator do caso, desembargador Túlio Martins, que considerou o vídeo “misógino”.

Em maio, Gentili divulgou um vídeo rasgando uma notificação extrajudicial enviada pela deputada contra o “humorista” por espalhar notícias falsas sobre sua filha menor de idade. Em uma atitude característica dos machistas, ele aparece rasgando o documento, colocando dentro das calças, esfregando nas partes íntimas e novamente no envelope, com indicações ofensivas e obscenas e, também, com incitação ao ódio e violência contra a parlamentar. Na época, a Justiça ordenou a retirada do ar no facebook, youtube e twitter sob pena de multa de 500 reais por dia.

No julgamento, o TJ decidiu o mérito do recurso, confirmando também que o vídeo é não só misógino, mas criminoso. Para o magistrado, é evidente que Maria do Rosário foi agredida e humilhada. “Constata-se que, a princípio, o conteúdo apresentado naquilo que seria um vídeo humorístico em verdade não é notícia, nem informação, nem opinião, nem crítica, nem humor, mas apenas agressão absolutamente grosseira marcada por prepotência e comportamento chulo e inconsequente”, afirmou o desembargador.

O “comediante” fez de suas frases “politicamente incorretas” um ganha-pão e uma maneira de atrair audiência, sempre em nome de uma “liberdade de expressão” que só admite para si mesmo: ao mesmo tempo que se diz vítima de “censura”, tenta calar seus críticos judicialmente. Em 2015, chegou a enviar para a editora deste site, Cynara Menezes, uma interpelação judicial por “crime contra a honra” em virtude de um tweet em que a jornalista ironizava o fato de um professor da PUC-RS ter feito uma “piadinha” machista no estilo “politicamente incorreto” que Danilo e seus seguidores utilizam. Um dos exemplos foi o tweet em que o “humorista” do SBT ensina como se aproveitar de mulheres bêbadas que, depois, foi apagado.



Danilo já foi acusado de racismo, homofobia e incitação ao ódio. Durante o processo de votação do golpe que derrubou a presidenta eleita Dilma Rousseff, ele comparou a senadora Regina Souza (PT-PI), que é negra e de origem humilde, com a “tia do café”.




Outro caso envolveu o deputado Jean Willys (PSOL-RJ) e o cartunista Laerte, que reagiram à burra comparação entre os dados alarmantes divulgados pelo Grupo Gay da Bahia sobre assassinatos de homossexuais no Brasil com as mortes de heterossexuais.





Quando uma de suas piadas de mau gosto atingiu os judeus, o apresentador acabou sendo forçado a se desculpar. Ao ironizar os moradores de Higienópolis, bairro de São Paulo com grande número de judeus, por não quererem uma estação de metrô na região, ele afirmou: “entendo os velhos de Higienópolis temerem o metrô. A última vez que chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz”, disse, referindo-se aos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial.

Gentili repetidamente recorre à falácia da “tentativa de censura” para manter suas injúrias e foi também assim que reagiu ao projeto Humaniza Redes, criado pelo governo federal contra as ofensas online. Para ele, a ação seria para perseguir quem “estiver zoando nas redes”, e, assim, criou uma outra campanha, a Desumaniza Redes para fazer justamente o oposto: confundir liberdade de expressão com liberdade de ofensa.

Seus seguidores também não vacilam quando o assunto é defender o ídolo. Recentemente, o jornalista Diego Bargas questionou o humorista, durante entrevista sobre o seu filme Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola, sobre a apologia à pedofilia no longa-metragem. Atacado nas redes sociais, o jornalista acabou demitido pela Folha de S. Paulo. “As perguntas eram espinhosas, mas eram perguntas. Era a oportunidade de o Danilo rebatê-las. Como eu poderia ser mais honesto do que questionando-o? Disseram que as perguntas tinham conotação política, mas são as respostas que importam. Fui condenado por fazer perguntas. São tempos sombrios”, afirmou, no facebook.

Na crítica que publicou no portal UOL sobre o filme, Paulo Pacheco diz que o longa de Gentili “ensina dois estudantes de 14 anos a deixarem de ser ‘cabaços’ (palavra repetida 27 vezes no longa). Eles bebem cerveja (o público não sabe que é guaraná), fumam, fazem bullying e objetificam mulheres”. Há também “uma cena de masturbação entre um homem e o protagonista de 14 anos”.

Nem sempre Gentili é aprovado pelos seguidores e não costuma reagir bem às críticas, apesar de pregar pela sua liberdade de fazer piadas e falar o que quer na internet. Certa vez, ao ser criticado, chamou uma internauta de “chupadora de rola de genocida e corrupto” e outra de “arrombada”. Em um dos episódios de maior repercussão, Gentili demonstrou toda a sua misoginia ao chamar de “vaca leiteira” Michele Maximo, a maior doadora de leite materno do Brasil. Depois de ter a sua imagem divulgada sem autorização, Michele acionou a Justiça e o humorista foi condenado a pagar 200 mil reais.

Um dos principais alvos dos machistas e misóginos da rede, Maria do Rosário vem vencendo na Justiça ações movidas contro os autores dos ataques. O número um deles é o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que já foi condenado por unanimidade pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) por “incitação ao estupro”. O pré-candidato da extrema-direita à presidência da República terá de fazer retratação pública e pagar 10 mil reais em danos morais à deputada. Bolsonaro também é réu em duas ações penais movidas pela petista no STF (Supremo Tribunal Federa) pelo mesmo motivo. A ofensiva tem provocado a reação furiosa dos seguidores de Bolsonaro e levou Maria do Rosário a pedir proteção à Câmara dos Deputados e à Polícia Federal contra ameaças e insultos dos bolsominions.

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