sábado, 17 de junho de 2017

Direita já admite a vitória de Lula

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Fernando Henrique Cardoso tem tido que rebolar no posicionamento em relação à permanência ou não de seu partido no governo Temer e na forma de eleger um novo presidente se o cargo ficar vago.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso mudou novamente de posição. Segundo o portal G1, no mês passado o ex-presidente defendia a eleição indireta para eleger novo presidente da República caso de Michel Temer perca o cargo ou renuncie. Agora, o mesmo G1 dá conta de que o tucano mudou de ideia

Para analistas políticos insuspeitos de ser petistas, FHC está querendo ajudar Lula quando (segundo dizem) passa a pregar eleição direta para presidente. Note bem, leitor, que não estamos falando de blogueiros “petralhas” como este que escreve, mas de analistas comprometidos com o extermínio de Lula e de seu partido.

O caso mais claro é o de Janaína Paschoal, a “musa” do impeachment de Dilma Rousseff, a advogada que ingressou com o pedido de destituição da ex-presidente. Antes de chegar a ela, porém, vale verificar o que motivou o reconhecimento de sua parte de que Lula venceria uma eleição direta para presidente se ocorresse neste momento.

Na última quinta-feira (15), FHC emitiu nota na qual não fica claro esse apoio a eleições diretas, mas os intérpretes do tucano acreditam que ele fala pelas entrelinhas. Vejamos o que ele escreveu:

Leia a íntegra da nota de Fernando Henrique Cardoso:

“A conjuntura política do Brasil tem sofrido abalos fortes e minha percepção também. Se eu me pusesse na posição de presidente e olhasse em volta reconheceria que estamos vivendo uma quase anomia. Falta o que os políticólogos chamam de ‘legitimidade’, ou seja, reconhecendo que a autoridade é legítima consentir em obedecer.

A ordem vigente é legal e constitucional (daí o ter mencionado como “golpe” uma antecipação eleitoral) mas não havendo aceitação generalizada de sua validade, ou há um gesto de grandeza por parte de quem legalmente detém o poder pedindo antecipação de eleições gerais, ou o poder se erode de tal forma que as ruas pedirão a ruptura da regra vigente exigindo antecipação do voto.

É diante desta perspectiva que os partidos, pensando no Brasil, nas suas chances econômicas e nos 14 milhões de desempregados, devem decidir o que fazer.

A chance e a cautela a que me refiro derivam de minha percepção da gravidade da situação. Ou se pensa nos passos seguintes em termos nacionais e não partidários nem personalistas ou iremos às cegas para o desconhecido.

A responsabilidade maior é a do Presidente que decidirá se ainda tem forças para resistir e atuar em prol do país.

Se tudo continuar como está com a desconstrução continua da autoridade, pior ainda se houver tentativas de embaraçar as investigações em curso, não vejo mais como o Psdb possa continuar no governo.

Preferiria atravessar a pinguela, mas se ela continuar quebrando será melhor atravessar o rio a nado e devolver a legitimação da ordem à soberania popular.

É este o sentimento que motiva minhas tentativas de entender o que acontece e de agir apropriadamente, embora nem sempre no calor dos embates diários e de declarações dadas às pressas tenha sido claro nem sem hesitações.”


O jornalista Paulo Henrique Amorim tem uma frase excelente para definir os textos de FHC. Eles seriam “gordurosos”, cheios de partes dispensáveis. O fato é que ao falar nas entrelinhas e não se comprometer nunca com nada ele demonstra um caráter que todos bem conhecemos.

Seja como for, FHC citar “devolver a legitimação da ordem à soberania popular” quer dizer devolver ao povo o direito de escolher seus governantes. Nessa frase, FHC reconhece o golpe ao dizer que foi tirado do povo o direito de ser governado por quem escolheu.

Alguns diriam que essa frase reconhece o golpe contra Dilma…

Seja como for, a mera ocorrência de eleições diretas para presidente está sendo vista por ultrarreacionários do calibre de uma Janaína Paschoal como vitória de Lula. Pelo Twitter, ela diz que FHC “trabalhou por Lula” ao pregar diretas.



Em seguida, a mídia tucana passa a interpretar a fala de Janaína e a confessar a real causa da rejeição da direita à realização de eleições diretas. O colunista da Folha de São Paulo Bernardo de Mello Franco escancara a razão pela qual a mídia e os partidos de direita (PSDB à frente) temem as diretas – e a razão está longe de ser a Constituição, como alegam.



Diz Mello Franco:

“(…) O texto de FHC é importante porque quebra um tabu. Desde o agravamento da crise, políticos, empresários e personalidades que apoiaram o impeachment rejeitam a ideia de novas eleições. A justificativa mais usada é que isso abriria caminho ao retorno de Lula pelo voto popular.

Para evitar uma volta do PT, seria preferível tapar o nariz e apoiar uma eleição indireta ou a permanência de Temer até 2018. O discurso ignora o alto índice de rejeição ao ex-presidente, mas tem ajudado a bloquear um debate que incomoda o governo.

Nesta quinta, a professora Janaina Paschoal reforçou a pregação contra as diretas. “Viram FHC trabalhando por Lula de novo?”, perguntou, no Twitter, após recomendar uma receita de strudel. Parece um bom momento para o eleitor do PSDB refletir: é melhor ouvir o ex-presidente ou repetir as teses da doutora?”


Janaína pode ter razão. FHC, esperto como é, pode estar se rendendo ao fato de que a candidatura Lula já é inevitável e conta com chances cada vez mais fortes de vingar.

Nesse aspecto, surpreende a menção do analista da Folha ao “alto índice de rejeição ao ex-presidente” Lula. Como pode um analista político tão importante não saber que a rejeição a Lula vem caindo mês a mês desde sua condução coercitiva em 4 de março de 2016?

Até o Estadão reconhece:



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