quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

A luta de ideia no combate ao golpe

Por Aldo Arantes, no blog de Renato Rabelo:

Cada vez mais vai ficando claro a importância da luta de ideias no combate ao golpe e na construção de um novo projeto para o País. Tanto assim que a chamada guerra ideológica ou cultural foi uma arma decisiva na derrubada do governo Dilma e na campanha desencadeada contra o ex-presidente Lula e o PT.

O ponto de partida desta campanha foi a escolha da luta contra a corrupção como elemento chave para a formação da chamada opinião pública. No caso brasileiro este objetivo foi alcançado com a Operação Lava Jato em que vazamentos seletivos e denúncias falsas foram utilizados amplamente pela grande mídia visando criar um clima de repúdio às personalidades denunciadas.

Ao lado da luta propriamente politica, foi desencadeada uma intensa luta teórica e ideológica através de uma longa e planejada campanha de construção de um pensamento de direita na sociedade.

A construção da hegemonia do pensamento de direita, tendo como fundamento o neoliberalismo, se voltou para a econômica, política e ideologia. Na economia a defesa da “livre empresa”, da globalização neoliberal, das privatizações, da livre circulação dos capitais. Na política a negação dos políticos, da política e dos partidos políticos. Na ideologia a ênfase no individual em detrimento do coletivo, com a consequente exacerbação do individualismo. O abandono de valores como a solidariedade, o apoio aos setores oprimidos da sociedade e a defesa de princípios éticos na vida pessoal e social.

Tais pilares do pensamento neoliberal foram plantados junto à intelectualidade e juventude no Brasil e em vários países da América Latina, com destaque para a Venezuela. Visitando este país pude constatar o conservadorismo de grande parte dos universitários.

No Brasil este plano foi bem arquitetado e financiado por empresários brasileiros e norte-americanos. A FIESP deu ampla cobertura e financiou os grupos que faziam mobilização contra o governo Dilma.

Declarações prestadas pelo cubano Raúl Capote, agente duplo da CIA, ajuda a descortinar o “por que”. Ele descreve sua ação em Cuba, baseada da “revolução suave” formula pelo professor norte-americano Gene Sharp e aplicada pela CIA mundo afora.

Tal concepção fixa cinco passos para a realização do “golpe suave”: 1º) Promover ações para gerar um clima de mal-estar social, utilizando os meios de comunicações. 2º) fazer denúncias fundadas ou não para debilitar a base de apoio do governo e criar um descontentamento social crescente. 3º) luta de rua com reivindicações políticas e sociais que se confrontem com o governo. 4º) combinação de diversas formas de luta para criar um clima de ingovernabilidade. 5º)se fora necessário a fratura institucional, realiza-la com base em manifestações de rua e ocupação de instituições públicas , pronunciamento militares até a renúncia do presidente (1).

Raúl Capote relata que a CIA constatou que “as universidades latino-americanas tinham sido, nas últimas décadas, um foco de insurreição e de formação de militantes de esquerda. Eles decidiram mudar isso e converter a universidade latino-americana em um centro de produção do pensamento de direita e não de esquerda” (2).

Segundo o cubano, a partir daí elaboraram um plano milionário que incluía bolsas para cursos de formação de lideranças, para professores e estudantes, nos Estados Unidos e em outros países como Israel e Alemanha.

Tal plano era financiado pelo Instituto Albert Einstein, o Instituto de Luta pela Guerra não Violenta, criado pelo milionário George Soros e pelo Instituto Republicano Internacional.

Raúl Capote relata, também, que para a execução do golpe utiliza cm ênfase os meios modernos de comunicação, sobretudo as redes sociais.

Pra atingir seu objetivo o golpe brando conta com a chamada “Guerra Cultural” visando criar a hegemonia do pensamento conservador. Ao lado da mobilização de amplos setores da população em torno de bandeiras como a luta contra a corrupção, a defesa dos direitos humanos sob a ótica do imperialismo, entre outras.

O planejamento da Guerra Cultural na América Latina decorreu, segundo Raúl Capote, da constatação da CIA de que “as universidades latino-americanas tinham sido, nas últimas décadas, um foco de insurreições e de formação de militantes de esquerda. Eles decidiram mudar isso e converter a universidade latino-americana em um centro de produção do pensamento da direita e não da esquerda”. A força da direita hoje nas universidades e junto a boa camada da intelectualidade são os maiores indicadores da vitória desta orientação.

O êxito da direita na chamada Guerra Cultural, na luta teórica teve como consequência a conquista da hegemonia de ideias, favorecendo a a hegemonia política que base para o golpe.

A ênfase nesta frente de luta é essencial para a conquista de uma nova hegemonia da esquerda e do movimento democrático no país.

O enfrentamento das forças golpistas deve ser travado na luta política e social. Contra os retrocessos impostos pelo ilegítimo governo Temer e em defesa da retomada da democracia através de eleições diretas já, temas que dão respostas aos problemas mais imediatos sentidos por milhões de brasileiros.

Todavia torna-se necessário uma atenção especial à luta teórica e ideológica para retomarmos a hegemonia do pensamento progressista entre os estudantes e intelectuais. Este objetivo implica em estabelecer um planejamento meticuloso dos temas a serem abordados e dos meios a serem empregados.

* Aldo Arantes foi deputado-constituinte de 1988 e é mmbro da Comissão Política do Comitê Central do PCdoB.

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