quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

"Vingaremos Assange e seremos milhões"

Reproduzo artigo enviado pela combativa Luana Bonone:

Os documentos revelados pelo site WikiLeaks alarmaram os chefes de Estado das nações mais poderosas e a solução óbvia foi a melhor que o imperialismo consegue desempenhar: a criminalização daquele identificado como o líder ou o responsável público pelo transtorno às relações diplomáticas.

Não conseguiram prender Julian Assange pelo que realmente incomodou, que foi a publicação de informações sigilosas, visto que este tem o direito de não revelar as fontes da informação veiculada. Arranjaram, então, outro motivo. E estão aliviados. “É uma boa notícia”, comemora o secretário de Defesa dos EUA, Roberts Gates.

Mas este não é o fim desta história, é apenas o começo de uma disputa que ninguém havia ousado pautar às nações imperialistas: a guerra da informação. “A primeira guerra da informação começou. Envie por Twitter e poste isso em qualquer site”, proclamam os hackers.

A propósito, antes que se confundam os talentosos profissionais que alimentam o WikiLeaks com larápios virtuais, fomos buscar uma definição do termo hacker na enciclopédia mais lida da rede: a Wikipedia. “Os hackers utilizam todo o seu conhecimento para melhorar softwares de forma legal. Eles geralmente são de classe média ou alta, com idade de 12 a 28 anos... A verdadeira expressão para invasores de computadores é denominada Cracker e o termo designa programadores maliciosos e ciberpiratas que agem com o intuito de violar ilegal ou imoralmente sistemas cibernéticos”, define a enciclopédia construída pelos próprios usuários da internet.

Mas o que o secretário estadunidense Robert Gates não contava era com o caráter coletivo das ações do WikiLeaks. O próprio nome do site já dá dicas a respeito do seu caráter coletivo. Wiki é o termo utilizado para descrever atividades colaborativas, em que várias pessoas ao redor do mundo, conectadas pela rede mundial de computadores, desenvolvem conteúdos, programas, jogos e uma infinidade de outras informações de forma simultânea e constante. Os programas de código aberto, por exemplo, conhecidos como software livre, são desenvolvidos desta forma, e apresentam alto nível de segurança, além de um desenvolvimento aprimorado de programas e sistemas, o que os coloca como preferenciais para utilização das mega empresas que atuam em âmbito global. O Google, por exemplo, utiliza plataforma livre.

Leaks também é um termo bastante apropriado para o site, não pelo seu caráter colaborativo, mas pelo seu caráter... bombástico, pois, na tradução literal, leak significa “vazamento”.

O fato do WikiLeaks ser wiki, ou seja, colaborativo, o posiciona de forma destacada na trincheira dos que lutam pela liberdade de expressão e de imprensa para todos, e não para as empresas de comunicação. E, mais, transforma este site em trincheira da luta antiimperialista, à medida que revela os bastidores das disputas políticas entre as nações capitalistas. E olha que o site ainda nem revelou os segredos mais cabeludos, acerca de como são constituídas e derrubadas democracias, de como as nações poderosas influenciam nos rumos de outras nações, ou como promovem guerras e conflitos.

Em resposta à prisão de Assange, flagrantemente política, hackers de todo o mundo reagem, como ouvissem o chamado de um ex-combatente da ditadura militar brasileira, o presidente da UNE desaparecido em 1973, Honestino Guimarães: “podem nos prender, podem nos matar, mas um dia voltaremos e seremos milhões...”.

Se os poderosos temiam Julian Assange, terão que enfrentar, após sua desastrosa manobra de criminalização do ativismo político e da liberdade de expressão, milhões de Assange, indignados e ansiosos por revelar informações cada vez mais comprometedoras dos objetivos nefastos de dominação global dos recursos econômicos e naturais, da cultura e do mercado de consumo de diversas nações por parte dos países mais poderosos.

Tio Sam, após a sede de vingança que ajudou a promover, ponha suas barbas de molho, pois um novo movimento se consolidou. Ele tem raízes em todos os países, não tem nome e nem face e não pode ser criminalizado, pois a cada baixa efetivada, um novo exército surgirá, com maior gana de pôr fim ao conforto da sala oval, sustentado pela fome e pela miséria de milhões.

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Twittaço em defesa dos direitos humanos

Reproduzo release do Programa Interagencial de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia:

Amanhã (10/12) é o Dia dos Direitos Humanos. Para celebrar esta data tão importante, o Programa Interagencial de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia convida todos os usuários do Twitter para uma mobilização de internautas (twittaço) em apoio aos direitos humanos.

Faça-se ouvir! Para participar, basta publicar mensagens com a hashtag #DireitosHumanos no dia 10 de dezembro. A iniciativa, proposta pelo Programa Interagencial de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia, deve ser entendida como uma ação de toda a sociedade brasileira, comprometida com os valores e princípios dos direitos humanos universais.

A data marca o 62º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o primeiro documento a reconhecer, no âmbito internacional, direitos fundamentais aplicáveis a todas e todos, independentemente de raça, etnia, gênero, origem, religião, idade, situação civil, condição de saúde, ou qualquer outra forma de diferenciação. Até 10 de dezembro de 1948, o Direito Internacional não tratava de questões humanitárias em tempos de paz, confinadas à legislação interna de cada país.

Hoje a Declaração Universal de Direitos Humanos é o documento mais traduzido do planeta, com versões em mais de 300 idiomas e dialetos, de Abkhaz (idioma usado na região do Cáucaso) a Zulu (língua falada na África setentrional). Somos iguais na diferença!

O Programa Interagencial de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia é uma parceria entre seis agências do Sistema ONU e o governo federal brasileiro, com apoio do Fundo para o Alcance dos Objetivos do Milênio, criado pelo governo espanhol. Nossa missão é contribuir para a incorporação dos princípios da equidade de gênero, raça e etnia, transparência e inovação na gestão pública e para o fortalecimento da participação social nas políticas de desenvolvimento humano.

Veja abaixo algumas sugestões de Twitts, do Programa Interagencial. Crie o seu, divulgue e participe!

Hashtag - #DireitosHumanos

Direitos humanos

Sou brasileiro e comemoro o Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Sou brasileira e comemoro o Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Sou mulher e comemoro o Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Sou homem e comemoro o Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Sou negra e comemoro o Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Sou negro e comemoro o Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Sou índia e comemoro o Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Sou índio e comemoro o Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Gênereo, raça e etnia

Sou contra o racismo e comemoro o Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Sou contra o preconceito e comemoro o Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Sou a favor da igualdade de gênero, raça e etnia e comemoro o Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Declaração universal dos direitos humanos

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Toda pessoa tem direitos e liberdades sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, religião, opinião política, ou origem. Dia dos #Direitos Humanos http://bit.ly/dO6bR2

Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras do Estado. Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica. Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

A vontade do povo será a base da autoridade do governo. Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social. Dia dos #DireitosHumanos http://bit.ly/dO6bR2

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Lula manifesta solidariedade ao WikiLeaks



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Vaccarezza amarelou na Veja

Reproduzo artigo de Artur Henrique, presidente da CUT, publicado em seu blog:

O deputado Cândido Vaccarezza deu uma entrevista à revista Veja e disse que a pauta sindical tem de mudar. Para nós, quem tem de mudar é o Vaccarezza.

A Executiva Nacional da CUT, que se reúne amanhã em São Paulo, vai refletir sobre a entrevista e deve se pronunciar oficialmente sobre seu conteúdo.

Mas algumas considerações já são possíveis.

O deputado disse que o movimento sindical é contra qualquer mudança. De que mundo veio o Vaccarezza? O movimento sindical, especialmente a CUT, já deu numerosas demonstrações de sua capacidade propositiva para mudar a realidade e as relações a seu redor. Crédito consignado, política de valorização do salário mínimo e agenda positiva no combate à crise são alguns exemplos mais recentes.

E nunca tivemos medo de debater mudanças. Continuamos defendendo a reforma sindical – organização por local de trabalho, convenção 87 e fim do imposto sindical – para que se possa, depois, alterar a legislação trabalhista.

E atenção Vaccarezza: a reforma sindical está parada na Câmara dos Deputados desde 2005.

Como o próprio Vaccarezza disse na entrevista: a Câmara não pode ser um obstáculo às mudanças.

Ele também criticou a multa de 40% na rescisão contratual, indicando-a como custo impeditivo à formalidade no mercado de trabalho.

Quer discutir isso, especialmente na condição de deputado? Vamos lá: pressione o Congresso para apreciar e aprovar a ratificação da Convenção 158 da OIT, que tramita por lá desde fevereiro de 2008.

A 158 colocaria rédeas na absurdamente alta rotatividade que existe no mercado de trabalho brasileiro – e que a multa de 40%, em tese, deveria conter.

Nosso nobre parlamentar também critica as contribuições ao INSS e as classifica como “custos” abusivos para o empresariado.

Nós não. Sugerimos a leitura da Constituição no capítulo que fala de seguridade social. Conquista do povo, instrumento de justiça – vejam só a falta que um sistema semelhante está fazendo nos EUA – a seguridade social não é custo. Aliás, a importância da seguridade no combate à miséria foi um ponto crucial durante o processo eleitoral.

Mesmo assim, se queremos desonerar a folha de pagamentos, por que não passar a cobrar a contribuição para o INSS sobre o faturamento das empresas? Incentivaríamos as atividades que mais empregam e ainda manteríamos o financiamento do sistema.

E, naquilo que mais parece uma tentativa de minimizar a importância do tema em questão, a reforma trabalhista, o deputado cita bizonhices como a obrigatoriedade de existir banquinhos para os funcionários de lojas ou a exigência de pé direito de três metros no ambiente de trabalho como provas da obsolescência da CLT.

Ele deve saber que a luta e o processo histórico fazem a legislação. Temas como o banquinho e o pé direito estão superados e a existência deles na CLT pouco importa. Se é para mudar essas coisas, nem precisava ter dado a entrevista. O que ele não falou, e que está por trás da proposta, é o que nos preocupa.

Vaccarezza discorre também sobre Previdência, e chega ao absurdo de defender a existência de idade mínima para aposentadoria. É preciso lembrar ao prezado deputado que, num país onde a maioria das pessoas começa a trabalhar muito cedo, a exigência de idade mínima seria uma injustiça.

Como deputado ele deve se lembrar que foram seus colegas que não levaram adiante a proposta de superação do fator previdenciário através da fórmula 85/95 – um projeto feito em conjunto com a maioria das centrais e que, entre outros méritos, pensa o financiamento futuro da Previdência com muita responsabilidade.

O projeto está parado na Câmara.

Há outros projetos de mudança parados no parlamento. A regulamentação da terceirização é um deles. A redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais é outro. A PEC contra o trabalho escravo também está na lista dos projetos à espera de votação no Congresso.

Enfim, a Câmara não pode ser obstáculo para as mudanças. Muda, Vaccarezza!

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WikiLeaks ganha reforços no Twitter

Salvemos o Wikileaks no Twuitter. Esta é a sugestão para que centenas de internautas criem a hastag #SaveWikiLeaks, com a intenção de oferecer direções IP e domínios alternativos que possibilitem o acesso à página de WikiLeaks.

A pressão contra o sítio web é grande. Sua "expulsão" da rede já teve dois lances: primeiro a Amazon, empresa que alojava os servidores de Wikileak, decidiu deixar de oferecer o serviço; mais tarde EveryDNA rompeu seu domínio, wikileak.org, que deixou de existir. O sítio precisou recorrer a uma nova direção (www.wikileak.ch) e contou com a ajuda do Partido Pirata suíço para obter uma URL alternativa.

A empresa que proporciona o DNS está na França e o governo francês pediu que encerrasse os serviços da web da Wikileak no país. O ministro da Economia, Eric Besson, pediu às autoridades competentes que coloquem fim a acessibilidade da web na França.

A rede se mobilizou contra estes problemas. No Twitter já é possível encontrar centenas de mensagens com formas alternativas de acessar o sítio, propondo direções IP ou domínios criados pelos próprios usuários. A web de Julian Assange pode ser visitada através de várias direções IP, como http://46.59.1.2, http://213.251.145.96, http://88.80.13.160 ou domínios como http://wikileaks.info/.

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Uma mídia previsível, repetitiva e chata

Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:

O professor Jay Rosen foi mencionado na coluna do Glenn Greenwald, da revista eletrônica Salon, como tendo dito que a imprensa-empresa dos Estados Unidos está morta, diante dos fracassos que promoveu em anos recentes, especialmente no período que antecedeu a invasão do Iraque.

Como eu morava, então, em Nova York, vi tudo muito de perto. Se existe uma repórter que, individualmente, promoveu a invasão do Iraque, foi a veterana Judith Miller, no New York Times (desde então demitida).

Ela foi “cavalgada” de forma espetacular pelas forças que pregavam a invasão do Iraque baseadas na teoria das “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein.

Eu me lembro perfeitamente de ler no Times sobre os tubos de metal que seriam indício de que Saddam montava centrífugas clandestinas para enriquecer urânio; eu me lembro perfeitamente de ler sobre os laboratórios móveis para produção de armas químicas; sobre os aviões não tripulados que dariam ao ditador iraquiano a possibilidade de espalhar veneno sobre cidades americanas.

Tudo isso culminou, obviamente, com aquele teatro de fazer corar os ficcionistas de Hollywood que nos foi proporcionado pelo então secretário de Estado Colin Powell nas Nações Unidas (eu estava lá, cobrindo pela TV Globo), quando ele apresentou as “provas” contra Saddam.

A grande dificuldade para todos os leitores, hoje em dia, é separar o jornalismo do lobismo implícito ou explícito. No Brasil, o caso recente do banqueiro Daniel Dantas deixou explícitas (graças a gente como o Luís Nassif, por exemplo) essas conexões.

Mas o lobby, muitas vezes, não é específico. Trata-se da defesa de dogmas. No Brasil, qualquer tentativa de regulamentar a mídia, por exemplo, é vista como “censura”. Na política externa, qualquer questionamento ao status quo é visto como antiamericanismo. Na economia, a pregação pela ortodoxia sobreviveu à crise econômica internacional.

Deriva daí a previsibilidade dos grandes jornais brasileiros e a completa incapacidade que eles desenvolveram de genuinamente surpreender os leitores (para além dos truques fáceis, como o de publicar a foto de um colunista vestido de mulher).

Eu juro que bocejo ao ler a Folha, o Estadão, o Valor e o Globo diariamente (já me livrei deste último). Repetitivos e, francamente, chatos. Acabou a relação custo-benefício. Eu me surpreendo muito mais navegando e lendo (de graça) blogs e sites na internet.

Quando me surpreendo nos jornais, é com algo que não foi escrito por um jornalista.

Neste caso, de um empresário que identificou o “coro das vozes da ortodoxia” que se expressa na mídia brasileira:

O risco da mão pesada

por Benjamin Steinbruch (*), na Folha de S. Paulo

O coro das vozes da ortodoxia canta alto nestes dias entre a eleição e a posse do novo governo. Vibra com os anúncios de que vem aí um forte ajuste fiscal, com cortes profundos nos gastos públicos. Vibra também com a proximidade de uma nova rodada de aumentos dos juros internos, uns prevendo a primeira etapa dessa elevação já na reunião de amanhã do Copom e outros esperando isso para janeiro. E ainda aplaude o aperto no crédito anunciado pelo Banco Central.

Ninguém pode, em sã consciência, ser contra austeridade fiscal ou combate à inflação, recomendáveis em qualquer situação e em qualquer país. São corretos, portanto, os alertas sobre o aumento dos gastos públicos correntes no ano eleitoral. Dados do Banco Central comprovam a deterioração das contas públicas. Mesmo com manobras contábeis que somaram R$ 35 bilhões – entre essas, principalmente, o reforço de R$ 32 bilhões decorrente da capitalização da Petrobras -, o superávit primário ficou abaixo da meta no período de janeiro a outubro.

Apesar da importância do esforço para buscar o equilíbrio das contas públicas, o tom alarmista na abordagem desse tema é inadequado e exagerado. O País precisa de mais austeridade e de firmeza no combate à inflação, mas não está à beira do abismo nessa matéria.

O Brasil está saindo de um período em que foi preciso elevar o gasto público para injetar adrenalina numa economia deprimida por fatores externos. Como a crise atingiu a todos, é relevante comparar nossa situação com a de outros países. O déficit público nominal, aquele que inclui também os gastos com juros da dívida pública, está em torno de 2,5% do PIB nos 12 meses findos em outubro, ou R$ 87,8 bilhões.

Expurgando-se todas as maracutaias contábeis, esse déficit ficaria ainda em torno de 3,5% do PIB, um pouco abaixo do nível da saudável Alemanha e muito aquém do observado em outras poderosas nações desenvolvidas (10,1% no Reino Unido, 9,0% nos Estados Unidos, 7,5% no Japão, 7,8% na França, 9,7% na Espanha e 37% na Irlanda). Em toda a zona do euro, o déficit nominal médio alcança 6,5% do PIB.

Não é correto, portanto, examinar a situação difícil das contas públicas sem colocá-la no contexto da conjuntura mundial, que mostra esses déficits espetaculares nas grandes nações industrializadas.

Além disso, é necessário considerar um segundo aspecto: o déficit nominal brasileiro decorre em grande parte de uma equivocada política de juros internos. Só três países – Venezuela, Argentina e Paquistão – praticam hoje taxa de juros mais alta que a brasileira. Nossa Selic de 10,75% tem um enorme impacto nas contas públicas. Nos últimos 12 meses, os juros nominais pagos para o carregamento da dívida pública de R$ 1,5 trilhão alcançaram R$ 187 bilhões, ou 5,37% do PIB.

Uma redução de dois pontos percentuais na taxa básica de juros poderia representar economia de uns R$ 30 bilhões – quase 1% do PIB – para os cofres públicos.

Preocupa o dominante olhar conservador lançado sobre essas questões. Nenhum destaque e nenhuma ênfase têm sido dados ao volume astronômico de gasto público decorrente da taxa de juros desajustada, que se pretende elevar ainda mais. Se a dívida exibe uma fatura de juros de R$ 187 bilhões em 12 meses, haja esforço fiscal para pagá-la.

Para resumir, diria que a situação difícil das contas públicas exige austeridade e a inflação precisa de cuidado, mas esses problemas não são dramáticos. Além disso, no médio prazo, a redução da taxa de juros básica para níveis civilizados é necessária e possível. Se essas ressalvas não forem levadas em conta, há o risco de que, ao usar uma mão pesada demais, o novo governo acabe por abortar o crescimento que, pela primeira vez em décadas, parece ter tomado um ritmo sustentado, a despeito da crise internacional.

Vários sinais indicam que estão em curso medidas para puxar a economia para baixo: corte de gastos do governo, inclusive de investimentos, aumento de juros, aumento de impostos e restrições ao crédito. Segurar a economia é fácil. Difícil será reanimá-la depois.

* Diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp


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Jô Soares, Kotscho e a mídia golpista

Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania:

Não pode passar batida a entrevista que o ex-assessor de imprensa e amigo do presidente Lula, o jornalista Ricardo Kotscho, concedeu ao programa do apresentador Jô Soares, na tevê Globo, na madrugada desta quarta-feira (08/12).

Que eu saiba, foi a primeira vez que alguém conseguiu dizer, na sede da imprensa conservadora de direita, que ela, que acusa o atual governo de censura, foi a única, entre os dois lados, que defendeu um estado de exceção que se baseava justamente em… Censura!

No segundo bloco do programa, diante de questionamento feito pelo apresentador sobre supostas intenções deste governo de impor censura a uma mídia que se notabilizou por tentar ser mais oposicionista do que a própria oposição, Kotscho não perdoou.

Abaixo, reproduzo o diálogo entre Ricardo Kotscho e Jô Soares no programa da Globo supramencionado.

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Jô Soares – O governo, parece que o governo está estudando a criação de um órgão pra controle, pra controle de conteúdo de rádio e televisão. O que você sabe dessa proposta, o que é que há de concreto e o que você acha disso?

Ricardo Kotscho – Olha, de concreto não há nada – até é bom levantar isso. Participei de um congresso, semana passada, na TV Cultura, sobre liberdade de imprensa, e estava esse negócio – o medo, o pânico, a censura, a volta da censura… Mas, quem fala isso, não viveu aquele tempo – eu vivi e eu sei como é que é…

Jô – Não, eu também e eu sei, inclusive, que é inconstitucional…

Kotscho – É impossível, hoje nós vivemos em uma democracia…

Jô – Então por que é que há essa onda, que tem até nome?

Kotscho – Então eu vou te falar: controle social da mídia, são documentos que circulam em sindicatos… Da categoria de comunicação, em congressos, simpósios, seminários… Tem gente que quer isso mesmo. Mas é uma minoria que nunca consegue…

Jô – Sempre tem gente…

Kotscho – Sempre tem, sempre tem… Desde sempre, desde o começo, quando eu trabalhava lá com ele [Lula] como secretário de imprensa. Nunca houve nenhuma medida de controle da imprensa.

Aí vão dizer assim: “Ah, mas o Estadão…”; o Estadão é uma questão do Judiciário. Todos os problemas que existirem de controle da informação são da Justiça, não tem nada a ver com o governo federal. Nem do atual governo Lula. E conheço muito bem a presidente eleita, Dilma, e não vai ter.

O Franklin Martins, nesse seminário da TV Cultura, disse, com todas as letras: “Controle social da informação é bobagem por um motivo muito simples: é inviável”. Sabe, não dá pra fazer. Quem vai controlar? Como vai controlar? Quem controla, somos todos nós. O controlamos sempre…

Jô – Dá pra controlar, não precisa nem levantar, hoje…

[apresentador faz mímica simulando uso do controle remoto]

Kotscho – Não ta gostando da nossa conversa, muda lá no controle remoto, compra outro jornal amanhã… É esse o controle que existe.

Jô – Agora, tem uma coisa, por exemplo…

Kotscho – Só uma coisa, Jô, deixa eu só complementar. Quem ta falando isso, todo dia, em manchetes, esse negócio de ameaça, na campanha eleitoral se falou… Não tem.

Eu me lembro muito bem, que eu sou dessa época, o Estadão ajudou a dar o golpe de 64. Ele fez reuniões dentro do jornal, que acabaram implantando a censura no Brasil, a ditadura que ele não gostou.

A Folha de São Paulo, você vai se lembrar disso, demitiu o Cláudio Abramo, que era um grande diretor de Redação, a pedido dos militares. Aí ninguém fala em liberdade de imprensa.

A Veja…

Jô – Mas aí havia uma ditadura… Reinando.

Kotscho – Exatamente, isso que eu quero dizer. Aí havia censura, e aí ninguém falava em liberdade de imprensa…

Jô – Por isso tão rígido a…

Kotscho – A revista Veja, a editora Abril, também não falava em liberdade de imprensa, a pedido dos militares.

Jô – Foi tão rígida, na Constituição, a medida que se tomou pra que não houvesse mais…

Kotscho – Olha, eu tenho mais de cinqüenta anos de profissão. Eu tenho um nome a zelar. Eu não vou falar pra um grande público como o teu, aqui, uma coisa que eu acho que pode estar errada. Eu tenho certeza: não houve e não haverá nenhum risco (…)


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